segunda-feira, 28 de setembro de 2009

CONTADOS OS VOTOS...

Temos então na próxima Assembleia:

PS - 96 deputados (121 em 2005);
PSD - 78 deputados (75 em 2005);
CDS-PP - 21 deputados (12 em 2005)
CDU - 15 deputados (14 em 2005)
BE - 16 deputados (8 deputados).

Portanto:
1) O PS perdeu a maioria absoluta mas manteve uma clara maioria relativa;
2) O PSD perdeu em todos os aspectos;
3) O CDS-PP aumentou muito para além das expectativas;
4) O BE duplicou o número de deputados mas as suas posições não vão ser decisivas na Assembleia porque PS+BE não dá maioria absoluta;
5) A CDU aumentou ligeiramente o número de votos e o número de deputados mas é a última força política.

Nestas condições o PS-Sócrates vai continuar a formar governo sózinho mas vai ser obrigado a negociar com partidos e, portanto, a sua atitude de "quero, posso e mando" acabou. Estão reunidas condições para ser mais influente a intervenção de cada partido e de cada cidadão. Não podemos ficar à espera das próximas eleições; é preciso intervir já!

domingo, 27 de setembro de 2009

ELOGIO DO CONTRATO SENTIMENTAL DE LÍDIA JORGE...



Não me recordo de ter lido nenhum livro de Lídia Jorge. Nem sequer uma crónica ou um texto mais curto. Tinha-a ouvido falar há muito tempo num programa qualquer de televisão. Mas na apresentação do Contrato Sentimental lançado há duas semanas gostei de a ouvir falar. E quando li as duas primeiras linhas que transcrevo decidi ler um pouco mais e finalmente comprar o livro para ler mais e à vontade:

Muitos são aqueles que apresentam razões fortes para duvidar, mas eu tenho a certeza que Portugal existe”.

Mais adiante diz a autora:


“Vou procurar traduzir para português o que o poeta José Emílio Pacheco pensou em castelhano do México.

Não amo a minha pátria.
O seu fulgor abstracto é inacessível.
Porém (ainda que soe mal) daria a minha vida
Por dez dos seus lugares, certas pessoas,
Portos, bosques de pinheiros, fortalezas,
Uma cidade desfeita, cinzenta, monstruosa,
Várias figuras da sua história, montanhas
E três ou quatro rios.

Eu também.”


E eu também.

sábado, 26 de setembro de 2009

Sara disse...
Tinha deixado um comentário lá em baixo mas pertencia aqui e que era mais ou menos "Parabéns a todos e Obrigada Camila." Sugestões de temas para o próximo?

BEijinhos
Sara
26 de Setembro de 2009 20:41
FIM DOS EXERCÍCIOS SOBRE AS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS 2009...

Pois é. Hoje é dia de reflexão para o voto de amanhã. Tal como tenho dito, a política não se resume ao acto de votar porque não se trata de uma competição desportiva; se assim fosse, amanhã seria um dia complicado para os "derrotados". A menos que saiam todos vencedores...como é costume...
A questão é já outra: o que é que os cidadãos podem fazer sejam quais forem os resultados? Participarem activamente em vários domínios da vida social, cultural e política e essa intervenção depende, sobretudo, da imaginação...
Votem bem!

domingo, 20 de setembro de 2009

Camila Reis disse...
Já li alguns dos textos que constam do livro Sei quem sabe (editado pela Fundação Odemira em Setembro de 2009) e tenho gostado de todos. Ter num livro compiladas respostas, concisas e esclarecedoras, aos mais variados temas ajuda-nos a chegar, não à condição de saber tudo, mas à de saber de tudo um pouco.Gostei muito da forma como se fala da Filosofia, das referências a autores e obras, etc. Gostei particularmente da pergunta "Qual é o interesse prático da filosofia na vida das pessoas?". A disciplina parece ser vista de forma tão abstracta que a possibilidade de esta ter uma componente prática é, para quem não sabe, surpreendente.Parabéns a todos e parabéns à Sara. Todos temos sede e não sabemos.
20 de Setembro de 2009 13:31

NOTA: Agradeço Camila o teu comentário e apresento (creio que pela primeira vez em termos absolutos porque não a encontrei na Internet), a capa do livro a que te referes.
M.B.


ELEIÇÕES LEGISLATIVAS 2009 - PONTO DA SITUAÇÃO COM ALGUMAS ALTERAÇÕES...

Não vi nenhum debate com os líderes políticos na televisão. Não tenho visto as entrevistas humorísticas dos políticos com o Gato Fedorento. Mas fui a um debate com representantes dos partidos BE, PCP, PS, MEP, PSD e CDS (pela ordem na mesa da esquerda para a direita) que teve lugar na Faculdade de Direito na semana passada organizado pelo Forum Liberdade de Educação. Na comunicação social dei conta dos resultados de algumas sondagens recentes.
Partindo das impressões de pessoas que têm acompanhado estas iniciativas e pelo que tenho seguido gostaria de colocar as seguintes hipóteses para o dia 27 de Setembro:

H1 – Nenhum partido terá maioria absoluta de votos;

H2 – É muito provável que o PS tenha um resultado (ligeiramente) superior ao do PSD;

H3 – O BE terá um aumento significativo em relação às últimas legislativas e, talvez, mesmo
em relação às europeias;

H4 – o PCP e o CDS têm resultados muito próximos.

Partindo do princípio que H1 é indiscutível e que H4 se verifica: se se verificarem H2 e H3 tudo vai depender do que for ” ligeiramente superior” e do “aumento significativo”.

Verificando-se H2:
Hipótese H2a: a diferença entre o PS e o PSD é igual ou superior a 3%; o PS-Sócrates dirá que “obteve uma vitória clara e contra muitas expectativas e que está pronto para formar governo”;
Hipótese H2b: a diferença é inferior a esse valor; o PS-Sócrates dirá apenas que “obteve a vitória e que está pronto para assumir as suas responsabilidades”.

Verificando-se H3:
Hipótese H3a: O BE obtém uma votação superior às europeias isto é, um resultado da ordem dos 10%; o BE dirá que a “governação não pode continuar a ser feita como até aqui”;
Hipótese H3b: o BE obtém um resultado igual ou superior a 12%; neste caso dirá, certamente, que “a governação não pode ser feita sem tomar em conta as suas propostas”.

Portanto pode acontecer:

H5: H2a e H3b verificam-se e o PS + BE tem a maioria absoluta no Parlamento. Que há a fazer? UM GOVERNO DE COLIGAÇÃO!
H6: H2a e H3b (ou H2a e H3a; ou H2b e H3) verificam-se mas o PS + BE não têm maioria absoluta no Parlamento. Que há a fazer? Não se poderá fazer nada de significativo. Neste caso nenhuma soma com dois elementos dá maioria absoluta (excepto PS+PSD mas este cenário não viabiliza um governo) e uma soma com três elementos é muito pouco provável. Portanto teremos que esperar.

Ora, se se verificar H5 temos uma alteração significativa de governo. Qualquer outro conjunto de resultados constitui tempo de espera.

Para se verificar H5 tem que se verificar H2a: o que o PS tem feito e o que o PSD tem feito e dito tornam H2a altamente provável.
Para se verificar H5 tem que verificar H3b: o que o BE tem dito até ao momento não é suficiente para a ocorrência de H3b ter probabilidade igual ou superior a 40%.

CONCLUSÃO FINAL: uma vez que as eleições também significam uma indicação da parte dos eleitores do sentido em que os partidos devem caminhar, pode bem acontecer a hipótese H5 mesmo que tanto o PS-Sócrates como o BE não tenham consciência disso! Portanto, quem pensa assim deverá votar BE, nestas eleições! Creio que vou mudar o sentido do meu voto expresso em 29 de Agosto de 2009!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

MARIA FERNANDA FERREIRA DE CARVALHO (1953-2009), PROFESSORA DE MATEMÁTICA

Na azáfama da abertura de mais um ano lectivo, a notícia da morte de uma colega de trabalho obriga-nos a recolher e a pensar sobre o que é importante na vida. O sacerdote recordou-nos isso: a atenção aos outros, o sentido humano das coisas e das relações, a partilha do tempo e dos lugares, a tranquilidade com que se enfrentam os problemas e a sua resolução. Não sei se a referência a Cristo é necessária para fundamentar a solenidade do momento; mas foi também aquele sacerdote que disse mais ou menos o seguinte: “A morte é um dos momentos em que reconhecemos de uma maneira muito forte o mistério da condição humana”. No silêncio possível das circunstâncias, estas palavras tem um eco particularmente justo.
A professora Fernanda Carvalho caminhava, pelo menos desde 2003, muito lentamente. O cansaço e esforço com que subia as escadas não a impediam de vir diariamente às aulas. Lembro-me de lhe perguntar algumas vezes por que razão estava tão pálida e de ela responder que era apenas cansaço.
O beijo à despedida de quem esteve junto dela durante vários anos também faz parte do mistério da vida.

sábado, 12 de setembro de 2009

NÃO HÁ DUAS...SEM TRÊS INICIATIVAS CULTURAIS...

A originalidade e o interesse que pode ter para os alunos (e não só...) obrigam-me a publicar esta notícia.
INAUGURAÇÃO DA CASA-POEMA

A 16 de Setembro, a Casa Fernando Pessoa transforma-se num poema, por dentro e por fora. Fachada exterior e paredes albergarão inúmeras versões de uma só ode de Ricardo Reis (Fernando Pessoa).
A inauguração da Casa-Poema será acompanhada, durante o dia, de animação de rua. Às 19h30, actores da Tenda – Palhaços do Mundo dirão poemas de Pessoa, das janelas da Casa Fernando Pessoa para a rua em frente. Pelas 21h30, na mesma rua, terá lugar um espectáculo musical pelo Flak Ensemble, e às 22h30 a peça de teatro «Todos os Casados do Mundo são Mal Casados», dramaturgia de Inês Pedrosa a partir de textos de Ovídio e Fernando Pessoa, encenada e interpretada por Diogo Dória.

INTERVALO... PARA OUTRA SUGESTÃO CULTURAL...

O blogue de Carlos Fiolhais com o endereço

http://dererummundi.blogspot.com/2009/08/novo-livro-de-divulgacao-da-ciencia-sei.html

tem em destaque a publicação de um pequeno livro com o título SEI QUEM SABE pela Fundação Odemira lançado no dia 8 de Setembro de 2009 na Biblioteca Municipal. Como tive a honra de ser convidado a participar no projecto não posso deixar de agradecer à organizadora, a escritora e professora, Sara Monteiro, à Câmara e à Fundação Odemira pelo incentivo e apoio a este tipo de iniciativas culturais e aos alunos que participaram com a colocação de perguntas e a ilustração simples mas sugestiva que introduz cada tema abordado. Voltarei brevemente a este livro. Obrigado a todos.

Para que conste registamos o momento... No uso da palavra está o Dr. Francisco Antunes, Presidente da Fundação Odemira, à minha esquerda a escultora Vera Gonçalves, ao seu lado esquerdo a escritora e coordenadora do projecto, Sara Monteiro, em seguida a Professora Doutora Maria Cabral, a Drª Susana Brito e ainda de pé, o Arquitecto Lutz Bruckelman.

INTERVALO...PARA UMA SUGESTÃO MUSICAL...

O jovem músico da foto vai participar no lançamento do CD da cantora e compositora, Joana Rios, nos próximos dias em vários pontos do país, nomeadamente, no Teatro S. Luís em Lisboa. Para começar a ouvir e a conhecer Joana Rios basta clicar em http://joanarios.com/joanarios.html . O contrabaixista tocará também em Janeiro na Casa da Música, o que não deixa de ser um acontecimento de assinalar...(seja lá em que sala for...).


Para saber mais sobre este músico consulte ao lado "António Quintino - Música".
Nota: A fotografia é de Mário Cruz (para ver outros trabalhos deste jovem mas já conceituado fotógrafo basta clicar ao lado).

domingo, 6 de setembro de 2009

EXERCÍCIO XIII - ESTUDO DO PROGRAMA DO CDS-PP RELATIVAMENTE À EDUCAÇÃO...

1. “Para o CDS é evidente o excesso de peso do Ministério da Educação, a acção asfixiante do Estado, a falta de uma cultura de responsabilidade e de exigência, a ausência de liberdade de escolha para as famílias e a exiguidade da autonomia”.
QUESTÃO: Isto não significa, basicamente, defesa da privatização total do ensino? Quais as vantagens desta privatização?
2. “Tudo com a liderança de um Director de Escola e de um conjunto de órgãos com estrutura simplificada, aberto à sociedade, valorizando o papel dos pais e co-responsabilizando a comunidade, e com competências bem definidas. O Director da Escola deve ser professor. Garante, após formação própria e especializada, a gestão profissional dos vários recursos existentes na escola. Por essa via as escolas serão dotadas não só de maior autonomia, como também de crescente responsabilização”.
QUESTÃO: Isto não é, basicamente, o que o PS tem feito e pretende continuar a fazer?
3. “Deve existir um sistema de avaliação das escolas que tenha como ponto central a vertente pedagógica. Defendemos um sistema geral de avaliação na Educação que abarque as políticas educativas, as escolas, os alunos, os manuais, os programas e os professores. A avaliação das escolas deve ser universalizada e tornar-se uma prática regular”.

QUESTÃO: Isto não é o que se tem feito e que todos os partidos defendem?

4. “Os alunos devem ser avaliados de uma forma sistemática, regular, e exigente”.

QUESTÃO: Pode haver afirmação mais trivial do que esta?

5. “O CDS defende o princípio da avaliação dos professores e entende que é necessário defender o seu prestígio social.”

QUESTÃO: Pode haver afirmações mais triviais ou demagógicas do que estas?

6. “Confundir deliberadamente tudo – por exemplo, a progressão dos professores na carreira e as notas que dão aos alunos; ou o mau desempenho de alguns, com a imagem de toda uma classe que é essencial ao futuro do país -, foi um erro político voluntário e forçado”.

QUESTÃO: “Erro político”? Ou erro técnico?

7. “A avaliação dos docentes […] terá de ser feita sem prejudicar o ano escolar, reclama uma base hierárquica, não se confunde com “avaliações” sem competências específicas e precisa de um sistema de arbitragem.”

QUESTÃO: Pode haver uma sequências de afirmações mais enigmáticas do que estas? (sublinhei uma delas…).
NOTA: Mais adiante lê-se: “A avaliação dos professores na escola pública deve ser inspirada no modelo em vigor no Ensino Particular e Cooperativo”. Mas então não explicam esse modelo no Programa? (Fui à procura na Internet e não encontrei. Alguém me ajuda?)

8. “Um dos muitos erros que foi cometido pelo Ministério da Educação foi o da divisão da carreira docente entre professores e professores titulares, sem que haja critérios compreensíveis para o efeito”.

QUESTÃO: Mas se houver “critérios compreensíveis para o efeito” já fará sentido a “divisão da carreira docente entre professores e professores titulares”. Certo? Mas então que critérios são esses?

9. “Deve ser considerado o desdobramento das aulas de Português e Matemática em teórico-práticas e práticas”.
QUESTÃO. Aqui está uma proposta concreta. Ou seja, para o CDS deve haver aulas mais expositivas e aulas com maior intervenção dos alunos. Mas isto não é o que se faz há muitos anos? É preciso pôr o Ministério a legislar sobre isto? Para quem quer o Ministério longe das escolas não está mal...!

10. “O ensino destas duas disciplinas [Português e Matemática] no ensino básico deve utilizar a memorização e a mecanização como elementos fundamentais na aprendizagem, tendo em conta a importância da compreensão da mecânica das relações e o contexto dos problemas”.

QUESTÃO: Podemos chamar a esta afirmação uma “afirmação mecânica”? Em que é que a “mecânica” do Português e da Matemática é diferente da “mecânica” da Física (as leis da Física…), da Geografia (quais os rios de Portugal?...), da História (Quais os reis de Portugal?...), etc.?

11. O CDS propõe-se “Criar aulas de língua portuguesa para estrangeiros”.

QUESTÃO: Mas se eles já existem o que se deve fazer? Considerar a sua existência mérito do CDS?


CONCLUSÃO: Quem vota CDS ou defende a privatização completa do ensino ou passa um cheque em branco a este partido.

sábado, 5 de setembro de 2009

INFORMAÇÃO SOBRE PROGRAMAS ELEITORAIS...

Só hoje coloquei o Programa Eleitoral do CDS-PP no lado direito do blog. Não convém ficar assustado com o número de páginas (222 páginas) dado que poderiam ser condensadas em menos de metade. A parte relativa à educação ocupa as páginas 60 a 69.
EXERCÍCIO XII - A PARTIR DE COMENTÁRIOS BREVES...

1. CARUMA disse...
E se Pilatos não tivesse votado em branco? Se tivesse decidido a favor de Cristo? Ou contra Cristo?No momento da decisão, dá-se ou tira-se a vida... o resto é alijamento da responsabilidade.
3 de Setembro de 2009 11:02

Resposta de M.B.:

Se Pilatos "não tivesse votado em branco" a única coisa certa é que a história seria outra...e uma das possibilidades seria "nunca Cristo ter salvo a Humanidade"! (ou melhor, a História da Salvação seria outra, porque Deus teria imaginação suficiente para adaptar o seu Projecto a essa decisão!). "No momento da decisão" de votar num partido não está em causa a vida de ninguém; quem vota em branco e quem se abstém (por convicção) sabem que estão a deixar para aqules que se consideram esclarecidos (os que não votam em branco nem se abstêm) a decisão sobre o partido que irá governar o País; isso significa simultaneamente reconhecer e aceitar a vontade dos outros e, eventualmente, da maioria (e isto é humildade democrática) e ficar em condições de exigir maior responsabilidade aos que votaram no partido do governo pelo tipo de governação que irá ser adoptado. Quem foi mais responsável pela morte de Cristo: Pilatos (que lavou as mãos) ou os fanáticos que "não votaram em branco" mas que não ficaram na História?


2. Dimi disse...
O voto não esgota a cidadania democrática, mas é sua condição essencial e se todos nos abstessemos de votar alienaríamos a democracia.Dimi


4 de Setembro de 2009 0:12

Resposta de M.B.:

Que o voto é "condição essencial" da "cidadania democrática" creio que estamos todos de acordo. E quem vota em branco manifesta ou não sentido de "cidadania democrática"? E quem se abstem por convicção (pelo facto de pensar que nenhum dos partidos responde ao que lhe parece essencial) não está a revelar consciência política? Portanto a questão está em saber o que se deve fazer para encontrar alternativa ao voto em branco e à abstenção. Por que razão o cidadão há-de votar no partido A ou B ou etc...? Que garantias tem de que o partido em que vota não irá defraudar as suas expectativas (como aconteceu com o voto de muitas pessoas no PS em 2005)? A abstenção de todos significaria a "alienação da democracia"?!! "A abstenção de todos" é, no mínimo, uma hipótese absurda! A partir de que valor da abstenção é que temos"alienação da democracia"?
A questão principal é a seguinte: que mecanismos têm sido criados (pelos governos, instituições,etc.) ou que são propostos, por exemplo nos programas eleitorais, para solicitar e motivar os cidadãos a intervir na política e a votar? Cito Mário Soares de um livrinho acabado de sair, Elogio da Política, Sextante Editora, Setembro de 2009, pág 45: [Há uma] "diferença entre a democracia liberal , individualista, no sentido de «cada homem, um voto» - e eleições livres com prazos marcados - que os americanos tanto gostam de proclamar, e a democracia social , que insere no conceito de governar preocupações económicas e sociais, tentando reduzir a desigualdade entre as pessoas...". Tanto quanto já li deste livro, Mário Soares não inclui explicitamente na "democracia social" procedimentos que poderiam estimular a intervenção regular dos cidadãos na vida política (e isso é uma falha, a meu ver). Mas é explícita a crítica do autor aos modelos "liberais" e puramente "representativos" em que a democracia significa votar de quatro em quatro anos...
Talvez volte, brevemente, a este livrinho...
Saúde.

M.B.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

EXERCÍCIO XI - A. NEVES ARGUMENTA CONTRA O VOTO EM BRANCO...M. BEIRÃO RESPONDE...
A. Neves disse...
Manuel Beirão, apreciei bastante a tua coragem de divulgar a tua opção de voto para as próximas legislativas, mas não gostei nada da opção e, por isso, faço uma tentativa de alterar o sentido do teu voto socorrendo-me de argumentos, regras empíricas e uma pequena história; suponho que não vais gostar e há outras pessoas que escrevem no teu blogue que também não vão gostar. TRÊS REGRAS: 1. Politicamente falando o que há de pior é não votar. (Significa não perceber nem apreciar o que é viver numa sociedade democrática.) 2. Ainda muito mau é votar nulo ou branco. (Significa apenas descontentamento e rigorosamente mais nada.) Eu prefiro votar na Laurindinha, que não suporto, do que em branco, porque dessa forma estou a dizer que estou descontente com os partidos e com as ideias que vigoram há anos e que sou partidário de uma mudança. 3. Como um horror a que não nos devemos condicionar é considerado o voto útil, por ti e por vários colaboradores do teu blogue. (Eu, pelo contrário, considero o voto útil como o refinamento da inteligência prática de gente que sabe a diferença entre o que significa ganhar e perder e percebe que não podemos ter a soberba de ganhar nos rigorosos termos que correspondem à nossa limitada e emotiva formação teórica.) Acresce que muita da gente purista está (enganosamente) de papo cheio, isto é, julgam que, APESAR DE TUDO, a vitória do PS vai acontecer e, por isso, podem divagar e fazer-se esquisitos. Nota: Apesar de tudo significa o bom senso do Zé Povinho que eles não têm... FIM REGRAS. UMA HISTÓRIA: recentemente o jornal EL País, idolatrando o U. Bolt pelo record mundial dos 100 metros chamava a atenção para o papel decisivo que o segundo classificado, Powell, desempenhou para que Bolt se transformasse numa lenda ao obrigá-lo, com a sua presença, a correr dando tudo o que tinha de melhor dentro de si até ao final da corrida. FIM DE HISTÓRIA. CONCLUSÃO: Como se resolve o dilema duma pessoa genuinamente socialista(PS) ? Por ordem de preferência: 1. Vota PS (voto genuíno, útil, que impede a Besta de ganhar) 2. Vota BE ou PCP (nunca ganharão e podem fazer o papel de Powell até ao fim) 3. Vota Laurinda ou noutro partido que seja novo e não seja neo-nazi. 4. Vota nulo escrevendo um desabafo. 5. Vota branco e, se fores coerente contigo mesmo, nunca mais na vida poderás votar diferente de branco porque a história se repete. FIM DE CONCLUSÃO. NOTA FINAL: Manuel, não me obrigues a votar por ti.

António Neves.
1 de Setembro de 2009 22:48

A RESPOSTA POSSÍVEL... PARA JÁ...

Meu caro Neves
Como já disse, estou a gostar cada vez mais do ano de 2009/10 e da abertura deste "caderno de escrita" onde podemos expressar publicamente as ideias que fundamentam as decisões; isso tem-me obrigado a ler, a pensar e a comunicar como eu nunca tinha feito até agora...
Tentando ir directo ao assunto mas por partes:
1. Sobre as regras:
Não concordo com a primeira regra que apresentas. Foi abundantemente defendida por Cavaco Silva no discurso do 25 de Abril deste ano na Assembleia da Republica e isso fez-me logo desconfiar da verdade da afirmação (sei que isto é uma falácia ad hominem mas, como todas as falácias, têm um fundo de justificação...). Dizes que votar "significa apreciar viver numa sociedade democrática". Viver (no dia a dia, ao longo de quatro anos, assistindo à governação de um partido qualquer, aos "casos" de polícia, de justiça, de educação, etc., etc.) traduz-se no voto? E como é que o cidadão protestou ao longo dos 4 anos? Ou pediu explicações a quem manda? Defendo que: a) Votar é um direito que se encontra no final da linha da cidadania; b) O mais importante é a intervenção do cidadão na vida política ao longo de cada ano: como membro ou simpatizante de um partido, como membro ou simpatizante de um sindicato, de uma associação, etc.
A inverosimilhança da tua segunda regra é consequência da primeira. Admites "votar no que não suportas só para não votar em branco e isso seria para mostrar o teu descontentamento". Mas não é esse o significado do voto em branco? É preciso votar num partido com votação inferior a, digamos, 1% para mostrar descontentamento? Não basta alterar o sentido do seu voto e, por exemplo, votar em branco? Ou mesmo não votar? Não percebo.
Sobre a terceira regra que diz respeito ao voto útil. Esta regra é uma outra versão da regra do "mal menor": mais vale votar num partido B quando se está contra o partido A do que votar em branco. Eu afirmei há dias e mantenho que a palavra "útil" é inteiramente dispensável. Se eu não concordo com o partido A não voto nele; se concordo com algum dos partidos B,C,D, etc. voto nele. Mas pode acontecer que eu não concorde, em aspectos importantes, com nenhum. E então, voto onde? Em branco. Ou pura e simplesmente não voto. A política (de que fazem parte as eleições) não é uma questão de "ganhar ou perder". A mim não me preocupa quem ganha as eleições; preocupa-me, antes ,a argumentação e a convicção de quem votou em cada partido, independentemente do resultado final. Partindo do princípio que todos votam em consciência, no fim, quem ganhou, ganhou. Vamos ver o que se é capaz de fazer com a vitória! E com a derrota! (E não dou os parabéns a quem ganha mas a quem se esforçou para mostrar que tinha as melhores propostas).
Tendo em conta que, sociologicamente e estatísticamente, o centro ganha sempre, só há, a meu ver, duas possibilidades para o resultado final: ou ganha o PS ou o PSD, mas em qualquer caso só se verificará maioria relativa. Portanto compete aos outros partidos (BE, CDU-PCP e ao CDS-PP que para mim são suficientes, por enquanto) mostrar que algumas das suas propostas são melhores do que as do PS e do PSD. E se um destes partidos formar maioria absoluta com um dos outros tem uma boa oportunidade de chegar ao poder. O que é que o BE e o PCP deviam fazer para isso? Apresentar propostas alternativas às do PS e confrontar o PS com elas. Em que domínios é que isso está a ser feito? Fico à espera de uma sugestão...
2. A analogia com a corrida em que participaram o Powell e o Bolt pode ser aplicada à política apenas no caso de se entender esta como "perder ou ganhar" e mesmo assim apenas no sentido em que há só um que ganha. Ora não me parece que seja o caso. Com efeito na corrida política tens a possibilidade de fazer coligações o que não acontece no atletismo.
3. Das possibilidades que apresentas só compreendo a primeira, a segunda e a quinta. Mas acrescento outra possibilidade: não votar. Contrariamente ao que algumas pessoas defendem, penso que a abstenção é uma forma de protestar e, nesse aspecto, também é significativa. Eu disse que, se não houver argumentos para escolher a segunda opção, votarei em branco. A melhor forma de evitar que isso aconteça é indicarem-me as diferenças e vantagens das propostas do BE e do PCP relativas à Educação.
Um abraço.
M.B.