terça-feira, 1 de setembro de 2009

EXERCÍCIO XI - A. NEVES ARGUMENTA CONTRA O VOTO EM BRANCO...M. BEIRÃO RESPONDE...
A. Neves disse...
Manuel Beirão, apreciei bastante a tua coragem de divulgar a tua opção de voto para as próximas legislativas, mas não gostei nada da opção e, por isso, faço uma tentativa de alterar o sentido do teu voto socorrendo-me de argumentos, regras empíricas e uma pequena história; suponho que não vais gostar e há outras pessoas que escrevem no teu blogue que também não vão gostar. TRÊS REGRAS: 1. Politicamente falando o que há de pior é não votar. (Significa não perceber nem apreciar o que é viver numa sociedade democrática.) 2. Ainda muito mau é votar nulo ou branco. (Significa apenas descontentamento e rigorosamente mais nada.) Eu prefiro votar na Laurindinha, que não suporto, do que em branco, porque dessa forma estou a dizer que estou descontente com os partidos e com as ideias que vigoram há anos e que sou partidário de uma mudança. 3. Como um horror a que não nos devemos condicionar é considerado o voto útil, por ti e por vários colaboradores do teu blogue. (Eu, pelo contrário, considero o voto útil como o refinamento da inteligência prática de gente que sabe a diferença entre o que significa ganhar e perder e percebe que não podemos ter a soberba de ganhar nos rigorosos termos que correspondem à nossa limitada e emotiva formação teórica.) Acresce que muita da gente purista está (enganosamente) de papo cheio, isto é, julgam que, APESAR DE TUDO, a vitória do PS vai acontecer e, por isso, podem divagar e fazer-se esquisitos. Nota: Apesar de tudo significa o bom senso do Zé Povinho que eles não têm... FIM REGRAS. UMA HISTÓRIA: recentemente o jornal EL País, idolatrando o U. Bolt pelo record mundial dos 100 metros chamava a atenção para o papel decisivo que o segundo classificado, Powell, desempenhou para que Bolt se transformasse numa lenda ao obrigá-lo, com a sua presença, a correr dando tudo o que tinha de melhor dentro de si até ao final da corrida. FIM DE HISTÓRIA. CONCLUSÃO: Como se resolve o dilema duma pessoa genuinamente socialista(PS) ? Por ordem de preferência: 1. Vota PS (voto genuíno, útil, que impede a Besta de ganhar) 2. Vota BE ou PCP (nunca ganharão e podem fazer o papel de Powell até ao fim) 3. Vota Laurinda ou noutro partido que seja novo e não seja neo-nazi. 4. Vota nulo escrevendo um desabafo. 5. Vota branco e, se fores coerente contigo mesmo, nunca mais na vida poderás votar diferente de branco porque a história se repete. FIM DE CONCLUSÃO. NOTA FINAL: Manuel, não me obrigues a votar por ti.

António Neves.
1 de Setembro de 2009 22:48

A RESPOSTA POSSÍVEL... PARA JÁ...

Meu caro Neves
Como já disse, estou a gostar cada vez mais do ano de 2009/10 e da abertura deste "caderno de escrita" onde podemos expressar publicamente as ideias que fundamentam as decisões; isso tem-me obrigado a ler, a pensar e a comunicar como eu nunca tinha feito até agora...
Tentando ir directo ao assunto mas por partes:
1. Sobre as regras:
Não concordo com a primeira regra que apresentas. Foi abundantemente defendida por Cavaco Silva no discurso do 25 de Abril deste ano na Assembleia da Republica e isso fez-me logo desconfiar da verdade da afirmação (sei que isto é uma falácia ad hominem mas, como todas as falácias, têm um fundo de justificação...). Dizes que votar "significa apreciar viver numa sociedade democrática". Viver (no dia a dia, ao longo de quatro anos, assistindo à governação de um partido qualquer, aos "casos" de polícia, de justiça, de educação, etc., etc.) traduz-se no voto? E como é que o cidadão protestou ao longo dos 4 anos? Ou pediu explicações a quem manda? Defendo que: a) Votar é um direito que se encontra no final da linha da cidadania; b) O mais importante é a intervenção do cidadão na vida política ao longo de cada ano: como membro ou simpatizante de um partido, como membro ou simpatizante de um sindicato, de uma associação, etc.
A inverosimilhança da tua segunda regra é consequência da primeira. Admites "votar no que não suportas só para não votar em branco e isso seria para mostrar o teu descontentamento". Mas não é esse o significado do voto em branco? É preciso votar num partido com votação inferior a, digamos, 1% para mostrar descontentamento? Não basta alterar o sentido do seu voto e, por exemplo, votar em branco? Ou mesmo não votar? Não percebo.
Sobre a terceira regra que diz respeito ao voto útil. Esta regra é uma outra versão da regra do "mal menor": mais vale votar num partido B quando se está contra o partido A do que votar em branco. Eu afirmei há dias e mantenho que a palavra "útil" é inteiramente dispensável. Se eu não concordo com o partido A não voto nele; se concordo com algum dos partidos B,C,D, etc. voto nele. Mas pode acontecer que eu não concorde, em aspectos importantes, com nenhum. E então, voto onde? Em branco. Ou pura e simplesmente não voto. A política (de que fazem parte as eleições) não é uma questão de "ganhar ou perder". A mim não me preocupa quem ganha as eleições; preocupa-me, antes ,a argumentação e a convicção de quem votou em cada partido, independentemente do resultado final. Partindo do princípio que todos votam em consciência, no fim, quem ganhou, ganhou. Vamos ver o que se é capaz de fazer com a vitória! E com a derrota! (E não dou os parabéns a quem ganha mas a quem se esforçou para mostrar que tinha as melhores propostas).
Tendo em conta que, sociologicamente e estatísticamente, o centro ganha sempre, só há, a meu ver, duas possibilidades para o resultado final: ou ganha o PS ou o PSD, mas em qualquer caso só se verificará maioria relativa. Portanto compete aos outros partidos (BE, CDU-PCP e ao CDS-PP que para mim são suficientes, por enquanto) mostrar que algumas das suas propostas são melhores do que as do PS e do PSD. E se um destes partidos formar maioria absoluta com um dos outros tem uma boa oportunidade de chegar ao poder. O que é que o BE e o PCP deviam fazer para isso? Apresentar propostas alternativas às do PS e confrontar o PS com elas. Em que domínios é que isso está a ser feito? Fico à espera de uma sugestão...
2. A analogia com a corrida em que participaram o Powell e o Bolt pode ser aplicada à política apenas no caso de se entender esta como "perder ou ganhar" e mesmo assim apenas no sentido em que há só um que ganha. Ora não me parece que seja o caso. Com efeito na corrida política tens a possibilidade de fazer coligações o que não acontece no atletismo.
3. Das possibilidades que apresentas só compreendo a primeira, a segunda e a quinta. Mas acrescento outra possibilidade: não votar. Contrariamente ao que algumas pessoas defendem, penso que a abstenção é uma forma de protestar e, nesse aspecto, também é significativa. Eu disse que, se não houver argumentos para escolher a segunda opção, votarei em branco. A melhor forma de evitar que isso aconteça é indicarem-me as diferenças e vantagens das propostas do BE e do PCP relativas à Educação.
Um abraço.
M.B.

2 comentários:

  1. E se Pilatos não tivesse votado em branco? Se tivesse decidido a favor de Cristo? Ou contra Cristo?
    No momento da decisão, dá-se ou tira-se a vida... o resto é alijamento da responsabilidade.

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  2. O voto não esgota a cidadania democrática, mas é sua condição essencial e se todos nos abstessemos de votar alienaríamos a democracia.

    Dimi

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