sexta-feira, 30 de outubro de 2009

"PÁSSARO CEGO"...



...DE MANUEL PAULO E NANCY VIEIRA...

domingo, 25 de outubro de 2009

O TEXTO BÍBLICO E O TEXTO DE SARAMAGO:

Génesis, cap. 4:

"Abel foi pastor e Caim foi agricultor. Ao fim de um certo tempo, Caim apresentou ao Senhor uma oferta de produtos da terra e Abel ofereceu as primeiras e melhores crias do seu gado. Ora, Deus ficou contente com Abel e com a sua oferta; mas não ficou satisfeito com Caim nem com a sua oferta. Por isso, Caim ficou muito irritado e de má cara. Deus disse-lhe então: "Por que é que te irritaste assim e ficaste com tão má cara? Se te comportares bem, podes andar de cabeça erguida, mas se te comportares mal, tens o pecado a espreitar à porta, procurando vencer-te. E contudo tu podes dominá-lo.
Certo dia, depois de Caim ter falado com Abel, seu irmão, saíram para o campo. Encontravam-se lá, quando Caim atacou o irmão e o matou.
O Senhor perguntou a Caim: "Onde está o teu irmão?" "Não sei. Será que eu sou o guarda do meu irmão?", respondeu ele.
E o Senhor disse-lhe: "Que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama por mim desde o solo. Agora, pois, maldito sejas longe do solo que abriu a sua boca para beber de tua mão o sangue de teu irmão! Quando o cultivares, negar-te-á as suas riquezas; andarás pela terra errante e fugitivo!".

O novo livro de José Saramago, Caim, começa assim:

«Quando o senhor, também conhecido como deus, se apercebeu de que a adão e eva, perfeitos em tudo o que apresentavam à vista, não lhes saía uma palavra da boca nem emitiam ao menos um simples som primário que fosse, teve de ficar irritado consigo mesmo, uma vez que não havia mais ninguém no jardim do éden a quem pudesse responsabilizar pela gravíssima falta, quando os outros animais, produtos, todos eles, tal como os dois humanos, do faça-se divino, uns por meio de rugidos e mugidos, outros por roncos, chilreios, assobios e cacarejos, desfrutavam já de voz própria. Num acesso de ira, surpreendente em quem tudo poderia ter solucionado com outro rápido fiat, correu para o casal e, um após outro, sem contemplações, sem meias-medidas, enfiou-lhes a língua pela garganta abaixo. Dos escritos em que, ao longo dos tempos, vieram sendo consignados um pouco ao acaso os acontecimentos destas remotas épocas, quer de possível certificação canónica futura ou fruto de imaginações apócrifas e irremediavelmente heréticas, não se aclara a dúvida sobre que língua terá sido aquela, se o músculo flexível e húmido que se mexe e remexe na cavidade bucal e às vezes fora dela, ou a fala, também chamada idioma, de que o senhor lamentavelmente se havia esquecido e que ignoramos qual fosse, uma vez que dela não ficou o menor vestígio, nem ao menos um coração gravado na casca de uma árvore com uma legenda sentimental, qualquer coisa no género amo-te, eva. Como uma coisa, em princípio, não deveria ir sem a outra, é provável que um outro objectivo do violento empurrão dado pelo senhor às mudas línguas dos seus rebentos fosse pô-las em contacto com os mais profundos interiores do ser corporal, as chamadas incomodidades do ser, para que, no porvir, já com algum conhecimento de causa, pudessem falar da sua escura e labiríntica confusão a cuja janela, a boca, já começavam elas a assomar. Tudo pode ser. Evidentemente, por um escrúpulo de bom artífice que só lhe ficava bem, além de compensar com a devida humildade a anterior negligência, o senhor quis comprovar que o seu erro havia sido corrigido, e assim perguntou a adão, Tu, como te chamas, e o homem respondeu, Sou adão, teu primogénito, senhor. Depois, o criador virou-se para a mulher, E tu, como te chamas tu, Sou eva, senhor, a primeira dama, respondeu ela desnecessariamente, uma vez que não havia outra. Deu-se o senhor por satisfeito, despediu-se com um paternal Até logo, e foi à sua vida. Então, pela primeira vez, adão disse para eva, Vamos para a cama.»


SUGESTÃO: continuar a ler a Bíblia e o livro de Saramago...

sábado, 17 de outubro de 2009

NATUREZAS VIVAS...
Pelos testemunhos a que se refere, pelo estilo que os autores, Sara Adamopoulos e José Vasconcelos, utilizam nos textos principais, pelas intervenções breves e precisas de António Nóvoa e Mariano Gago e até pela capa, a obra Liceu Camões - 100 anos, 100 testemunhos, editada pela Quimera e lançada ontem, mostra como as escolas podem fazer parte da natureza viva...


Transcrevo um excerto não do Liceu de Camões mas de uma obra inédita: A CASA INTERIOR:

O DIA DA FESTA

Chegou finalmente o dia marcado. Deveria vir muita gente mas algumas pessoas não tinham confirmado. Relativamente a alguns dos convidados especiais havia ainda dúvidas sobre a sua presença. Por outro lado não se sabia exactamente quantos ficariam para o lanche que o orçamento obrigava a ser parco. Estas incertezas e limitações criavam, naturalmente, no dono da casa uma preocupação, uma inquietação típicas das circunstâncias. “Vai tudo correr bem!”, dizia a filha mais nova. O pai gostava da intenção expressa e não tinha coragem de contrapor o que quer que fosse; afinal, apesar de, no início, ter colocado algumas reservas à ideia da mãe, tinha concordado em fazer a festa.
Oficialmente era às cinco horas o encontro mas até lá havia sempre qualquer coisa por fazer. Há uns anos alguém se tinha esquecido de comprar o vinho verde e a água das pedras; falha colmatada pelo filho quando já havia convidados na sala. Não era agora o caso. As flores estavam nas jarras previstas, os livros novos foram colocados na mesa adequada, a entrada principal tinha sido rigorosamente limpa e o jardim estava desimpedido para a chegada dos poucos carros que lá cabiam.
Alguns convidados não compareciam há anos. Uns porque estavam longe, outros porque tinham tarefas inadiáveis no trabalho e outros porque estavam realmente doentes. Agora era preciso pensar em cada um deles para retomar conversas antigas ou saber colocar as perguntas.
Tais conversas começaram pouco tempo depois da hora marcada. Eu reparava que o dono da casa se esforçava por pôr as pessoas à vontade. Num primeiro momento as palavras eram forçadas mas pouco a pouco vinham à memória episódios divertidos que descontraíam o ambiente e facilitavam a comunicação. As intervenções lúdicas, literárias e musicais que alguns dos presentes tinham gosto em fazer constituíam uma razão acrescida para a festa. O lanche acabava por alimentar corpos e almas.
Ao cair da tarde, o dono da casa reconhecia que mal tinha falado com cada um dos convidados mas podia, finalmente, descansar.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

PARA CONCLUIR AS ELEIÇÕES...

Terminou a longa época eleitoral. Não é exagerado afirmar que o PS-Sócrates não sai muito derrotado. Mas a perda da maioria absoluta nas legislativas mostra que estava a governar de forma arrogante. O resultado das autárquicas mostra que o poder local tem uma lógica própria: ao papel dos partidos sobrepõem-se (pelo menos podem sobrepôr-se) os interesses próximos. Em qualquer dos casos conclui-se que o Partido Socialista (não propriamente de Sócrates) é a escolha maioritária dos eleitores. Sabia-se que o governo que agora termina funções tinha tomado decisões favoráveis a uma boa parte de pessoas idosas e carenciadas, tinha alterado substancialmente as condições de trabalho dos agentes escolares, dos juízes e dos médicos. Numa palavra: foi um governo reformador mas polémico! O facto de agora Sócrates se dispôr ao "diálogo" pode não passar de retórica mas as alterações podem começar por mudar de palavras! Vamos ver o que nos espera a política nos próximos dias...

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

COMENTÁRIO SIMPÁTICO MAS TOTALMENTE INESPERADO...

Artur Fernandes disse...
Olá! Obrigado pela simpática referência!Visite-nos em www.dancasocultas.com

6 de Outubro de 2009 18:25

NOTA: Agradeço o brevíssimo comentário do "Maestro" e com certeza que vos farei mais visitas virtuais e, sobretudo, reais! Obrigado pela sugestão e parabéns pelo concerto no S. Luiz!
M.B.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

CARUMA disse...
De acordo. Os cidadãos devem participar, mas espero que o façam construtivamente. Bem sei que as queimadas têm o objectivo de regenerar o pasto, mas se feitas fora de tempo acabam por desertificar o terreno.
4 de Outubro de 2009 22:48

RESPOSTA DE M.B.:
Caro "carumeiro":
Tenho uma sensação de incómodo que não sei explicar completamente quando leio ou oiço frequentemente expressões do tipo "o cidadão devia participar...", "devia votar...", "devia intervir", etc. Penso que o incómodo deriva da utilização sistemática da palavra "dever". Provavelmente por influência de Kant ou talvez dos seus comentadores, tenho dificuldade em considerar positiva a noção de "dever". O dever tem uma carga de obrigatoriedade que para mim não é fácil de compatibilizar com a vida , isto é, com a alegria. Se digo "o cidadão deve fazer o que acha melhor, o que lhe dá mais alegria" já estou a utilizar a palavra noutro sentido e, portanto já não tem conotação negativa porque remete para a noção de prazer e para a vontade individual. Eu não digo "o cidadão devia participar na vida política" ; digo apenas: "participar na vida política para lá das votações dá-nos ocasião de sentir uma força maior para as nossas convicções e portanto permite encontrar alternativas aos políticos que vamos tendo". E, para utilizar a metáfora da "queimada", digo: "se a participação do cidadão não tem influência no meio é pouco provável que lhe traga alegria e aos outros algum benifício; por outras palavras, toda a participação comporta riscos...".
Saúde e bom trabalho.
M.B.

sábado, 3 de outubro de 2009

DESCOBRIR DANÇAS OCULTAS ...


Bela surpresa esta! Como 4 concertinas (nas mãos de 4 instrumentistas) nos proporcionam uma música ao mesmo tempo bela e espiritual! A atitude dos músicos (na foto de cima para baixo e da esquerda para a direita: Filipe Cal, Filipe Ricardo, Artur Fernandes e Francisco Miguel) é fundamental e qualifico-os assim: Maestro, Barítono, Apolo e Místico. Fica a vosso cargo a identificação de cada um! Para já podem clicar aqui e ouvir um pouco da música do último CD, Tarab...

www.youtube.com/watch?v=DdVbvCBSLsI

E aqui para verem os músicos em acção há uns tempos...

youtube.com

Bom domingo!

A PROPÓSITO DAS ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS...

Acabo de ouvir a notícia de que António Costa informou há pouco os trabalhadores da Câmara Municipal de Lisboa de que iriam ser aumentados argumentando depois que isso tinha sido decidido há muito tempo...
Se foi verdade, António Costa está rodeado de maus conselheiros. É um erro básico!
Começo a pensar que António Costa está apreensivo e isso é um sinal de que ele não vai ganhar as eleições...
M.B.
DIMI disse...
Manuel gosto muito, mesmo muito da Lídia Jorge, quer como escritora, quer como pessoa. Foi minha professora de Português em 1973/1974, na Beira, em Moçambique e foi daquelas professoras que me marcou para a vida (sempre a importância dos professores e não sei como há quem não reconheça tal...). Li todos os livros dela à excepção deste último. Os meus preferidos são "O Cais das Merendas", que foi o seu segundo livro, uma obra prima ignorada, "O Vento Assobiando nas Gruas" e um pequeno conto maravilhoso "A Instrumentalina". Quando puderes lê e depois trocamos umas ideias sobre o assunto, como diria o Mário de Carvalho.Dimi
1 de Outubro de 2009 22:38

RESPOSTA DE MB:
Obrigado, Dimi, pelo teu depoimento sobre a Lídia Jorge. Vou tentar ler mais alguma coisa dela. Logo que as tarefas escolares abrandarem!
Saúde para vocês!
M.B.
CARUMA comentou...
«É preciso intervir já!» Pois é, a democracia participativa! Mas cuidado, é preciso dar espaço ao novo governo. Nada nos garante que Socrates não tenha aprendido com os erros. Quem sabe, talvez o PS retire o socialismo da gaveta, em vez de se atirar para os braços de franjas políticas que têm como 1º objectivo asxifiá-lo. E também devemos ter presente que o cavaquismo continua à espreita.
28 de Setembro de 2009 8:11

RESPOSTA DE MB:
Quando se diz "Intervir já!" significa apenas que os cidadãos não devem "esperar" que um dirigente ou um partido faça isto ou aquilo. Significa que está na hora de aumentar a participação na vida dos partidos e dos órgãos que detêm efectivamente o poder... Há muitas alternativas aos dirigentes partidários! Mas é preciso descobri-las!
Bom fim de semana!