terça-feira, 29 de dezembro de 2009

VAMOS AOS FADOS..

Nas vozes de Ana Moura e Patxi Andion
Com as palavras de Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
e música de Patxi Andion

Vaga, No Azul Amplo Solta

Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.

O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma.

E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.

Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.

Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.


Para ouvir basta clicar em baixo...

www.youtube.com/watch?v=GD1i14HKEdM

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

3 FILMES EM ANTEESTREIA… (II)

CINZAS E SANGUE, de Fanny Ardant.
E que história é esta que conta em "Cinzas e Sangue?
F.A.: "É uma tragédia, ao estilo grego, em que duas famílias rivais se encontram depois de anos de separação. Ao mesmo tempo tem uma boa dose de sentido contemporâneo, de actualidade. Os emigrantes que deixam para trás parte do seu sangue, neste caso particular falo da Roménia. E a sua tragédia é o regresso a casa, que quase todos procuram. Podem ser recebidos da melhor forma no país de acolhimento mas há algo que nunca desaparece, uma vontade de fugir, de regressar. É, por isso mesmo, uma escolha de vida algo trágica. Eurípides ou Sófocles teriam nestes nossos dias inspiração garantida
".
Cinzas e Sangue é um filme que impressiona pela paisagem, pela luminosidade, pela teatralidade dos movimentos das personagens e pelas relações familiares. Uma "tragédia ao estilo grego" que não é, parece-me, o estilo contemporâneo ocidental...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

3 FILMES EM ANTESTREIA...(I)

UM PROFETA de Jacques Audiard (2009)
O jovem. A prisão. O sangue. O olhar. As grades. As paredes. O claro/escuro. A cela. Os gritos. Os palavrões. O sangue. Os rostos feridos. A sobrevivência. A lâmina. O assassínio. O sangue. A faca. A droga. Os gritos. Os socos. Os pátios. As celas. A boca. As palavras. A morte. A cama. O sonho. O sangue. A corrupção. Os homens. A prisão. O profeta…

domingo, 13 de dezembro de 2009

FILMES E REALIDADES FAMILIARES… (II)

A dinâmica da vida familiar pertence à Avó. Na cozinha, nas refeições, nas conversas com todos os membros da família, na relação com o Avô, na atitude perante o jovem (adulto) que foi salvo pelo filho que morreu... As mulheres falam, tratam da casa, lavam a loiça, tratam das crianças; os homens (entre os quais Ryo, o filho que, aos olhos do pai, nunca conseguiu substituir o mais velho que morreu ao salvar uma criança) ruminam ou estão distantes. Entre as crianças destaca-se o filho da viúva que casou com Ryo. Ele estabelece a ligação entre a mãe e Ryo e entre este e o Avô. O Avô quer que ele seja médico mas ele quer ser afinador de pianos como o pai.
Os diálogos pausados, o silêncio que acompanha as caminhadas que levam ao cemitério, a música da guitarra clássica que ocasionalmente irrompe, o quase aroma do milho e dos legumes, o sol e o calor daquele dia, as cores das flores e das borboletas, o comboio que separa as casas do mar, fazem com que este filme mostre a condição humana universal.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

FILMES E REALIDADES FAMILIARES… (I)


Uma família é um grupo mais ou menos alargado, mais ou menos complexo. De indivíduos, de pessoas diferentes e iguais. Cada um é (vai-se fazendo ou vai fazendo) uma personalidade própria. Como conciliar a vontade e o gosto de cada um com os outros? Como é que o que aprendemos na família de origem se vai transmitir ou vai influenciar a família que iremos criar?
“Tetro” é um filme sobre a família, ou melhor, sobre famílias. Em particular “aa famílias” argentina, italiana e ,portanto, a família americana. Mas é também um filme sobre personalidades individuais, em particular sobre certos filhos e certos pais. Individualmente e emocionalmente o poder, o prestígio e a rivalidade podem determinar as relações entre os membros da família. Quando isso acontece os conflitos são fortes e é natural que um filho “exija”, pelo menos simbolicamente, a morte do pai.
O preto e o branco de Vicent Gallo é muito interessante; a personagem do filho mais novo não me parece convincente. O “Festival da Patagónia” talvez não fosse necessário…

domingo, 6 de dezembro de 2009

FILMES E REALIDADES...

Suponhamos que um filme para ser bom tem que incluir um argumento convincente, sequências de filmagem articuladas, uma fotografia (cor ou preto e branco) adequada a cada cena, a música ou o som justo e uma interpretação que arrasta a realidade para o filme. Se um dos protagonistas do filme é um compositor, a música torna-se parte central da obra. Dizer que "o filme de K. resume o romance a uma questão de desejo carnal" é simplificar demasiado; e mesmo que fosse ainda haveria que explicar o que é isso de "desejo carnal". Os corpos (mas não só a sexualidade; também a gravidez da mulher e os corpos das crianças) são, sem dúvida, um dos elementos centrais do argumento, um outro elemento fundamental é a música e outro não menos importante ainda são os sentimentos dos protagonistas. E todos estes elementos são constitutivos da vida real. Mesmo que não tenha sido o real das personagens...
COMENTÁRIO DE A. NEVES SOBRE A FALTA DE PARTICIPAÇÃO NA VIDA POLÍTICA...

Manuel compreendo o teu desalento, mas não esqueças que vives em Portugal e que a falta de empenhamento em reuniões de análise não acontece só na política, mas em todos os ramos de actividade: analisar é descobrir o que não está a funcionar e o nosso vazio de ideias.Quem é que, estando bem instalado, quer questionar a realidade?
É verdade, no entanto, que a realidade evolue e não perdoa. A curto prazo,(não mais do que 6 meses), a situação política vai evoluir, vão surgir novas figuras, e o importante, mais uma vez, não será descobrir os erros e as suas causas, e as melhores estratégias futuras, mas a melhor forma de nos demarcarmos dos vencidos de ocasião e arranjar condições para nos juntarmos aos novos senhores do Poder.
Presta atenção: vai haver novas reuniões, mas, pelo que te conheço, tu não serás convidado.
António Neves.

sábado, 5 de dezembro de 2009

PARTICIPAÇÃO NA VIDA POLÍTICA...

Não é fácil intervir na política... Passada a época das campanhas eleitorais é como se estivesse à espera de passarem os 4 ou 5 anos do mandato dos órgãos eleitos para voltar a poder votar... Ora a participação na política não se pode esgotar no acto de votar se quisermos conhecer com alguma profundidade os meandros da política e não nos limitarmos a afirmações vagas. Mas não se julgue que é fácil intervir nas estruturas partidárias... As rotinas e os interesses são muitos e a tendência para quem lá está não querer que venha alguém mexer uma palha é muito forte!
Suponhamos que é convocada uma reunião de militantes do partido A e que a ordem de trabalhos é "Análise da situação política". Espera-se que sejam convocados muitos militantes, que haja alguém previsto para fazer uma primeira "análise da situação política", que sejam indicados documentos importantes para o debate e, finalmente, que haja bastantes militantes presentes. Se nenhuma destas condições se verifica o que concluir? Que alguém não está muito interessado em analisar o que quer que seja...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

TENTATIVA DE COMENTÁRIO AO CONCERTO DE ONTEM NO S. LUIZ...

Nascemos humanos. E agora? J. Monge

A sala estava cheia. Talvez mais de quinhentas pessoas. Percebia-se que grande parte da assistência eram familiares ou amigos dos músicos. A Nancy Vieira, ao centro, de vestido comprido, vermelho, e os músicos, com cores mais escuras, em semi-círculo, ocuparam muito bem o espaço do palco em termos visuais. Os quadros de João Ribeiro projectados ao fundo recriavam, com as cores vivas do vulcão e do mar, a viagem do "Pássaro" pelas Ilhas. A primeira parte foi a apresentação do CD "Pássaro Cego" com letras de João Monge, músicas de Manuel Paulo e a voz de Nancy. Eis algumas palavras cantadas:
Diz o "Pássaro Cego":

"Tenho asas, não as vejo
nasci de uma falsa fé
de ser irmã do desejo
de saber como isto é".

Na "Ilha Babilónia" canta o "Pássaro":

"somos todos quase santos
somos todos animais
andamos nus pelos cantos
para ficarmos iguais".

E na "Ilha dos Outros":

"quem és tu? de onde vens?
tens duas asas como eu
tens corpo e alma e também tens
encontro marcado no céu".

Na "Ilha da Infância" o "Pássaro" canta com a voz das crianças:

"todos se chamam irmãos
filhos da mesma aguarela
nascem pardais das rosas
e eu sou a sua menina".

Na "Ilha da Saudade" canta o Pássaro":

"não vejo a hora de voltar
largar as malas no salão
trepar por ti sem te falar
espalhar as asas pelo chão".

E na "Ilha dos Amantes":

"ai, deixa ver
onde o teu peito desagua
onde é que nasce a luz da lua
eu vou sem nada pra te ver".

Senti, em determinados momentos, que essa viagem era demasiado embalada, vagarosa. A música era muito marcada pelo ritmo da percussão manual. Quando a voz da Nancy se aplicava ao ritmo mais marcado da "Ilha Babilónia" ganhava outro voo e enchia a sala e as palmas dos presentes.
Foi o que aconteceu mais claramente na segunda parte quando as músicas percorreram composições de outras origens. E ao voltarem, no "encore", ao "Pássaro Cego" então a voz da Nancy estava mais calma e sossegada e a plateia reconheceu aquele voos.
Um concerto muito bonito; um projecto muito exigente. Mas a voz de Nancy tem capacidades que esperam outras viagens.