domingo, 3 de maio de 2009

COMENTÁRIO DO JOSÉ CARLOS MADUREIRA À "NOTA DE ABERTURA":


Como tu dizes, este é um ano decisivo. Um ano de decisões e, por conseguinte, de oportunidades. Sobretudo oportunidades de participar na mudança que, espero, se avizinha. Sejamos, pois, protagonistas da mudança. Protagonistas menores, mas ainda assim protagonistas. Façamos de conta que este é o patamar originário de um futuro melhor a construir, ou, como dizia o Sérgio Godinho: "o primeiro dia do resto da tua vida". Vivemos tempos de crise, não só económica. Porque somos modernos, não poderia ser de outro modo, uma vez que a crise é o rosto visível da modernidade que nos cabe cumprir. Mas não se pode falar de crise sem falar de crítica. São como dois bois aparelhados para levar para diante a mesma demanda. Só uma postura crítica fará da crise o combustível da mudança desejada.Em termos cidadania, não nos resta outra alternativa válida que não seja a de nos assumirmos como "animais políticos". Não se trata de apenas de relembrar o velho Aristóteles. Trata-se, antes do mais, de não enjeitarmos a oportunidade de cumprirmos a humanidade plena que nos percorre a existência. Sejamos por isso mesmo políticos, não nos esquecendo que a política é, acima de tudo, a arte de inventar o futuro - o nosso e o dos nossos filhos. Reneguemos pois o argumento da inevitabilidade, tantas vezes usado para nos passar um atestado de menoridade intelectual e política.Se existe alguma nota fundamental que componha o projecto da modernidade, ela não pode ser outra senão a revolução democrática. A democracia, ainda que se lance as suas raízes em solo grego, tem na modernidade a atmosfera propícia para o seu desenvolvimento. No entanto, também hoje o programa democrático - que não é outro que não seja o da realização dos ideias da liberdade e da igualdade - está em crise. É imperioso que procedamos a uma crítica da razão democrática. Esta crítica torna possível duas coisas: evidenciar as condições de possibilidade do exercício democrático, por um lado, e radicalizar a democracia, por outro. O que se pretende, com isso, não é contribuir para a descredibilização da democracia, mas tão somente cuidar dela como o mais precioso dos bens que, para nós portugueses, o 25 de Abril conquistou. Tal como uma planta, ou a alimentamos ou morre.A propósito da reflexão política, aponto duas sugestões de leitura:1) "A incompetência democrática", Philippe Breton, Edições Loyola, 2008 (o original é de 2006).2) "O regresso do político", Chantal Mouffe, Gradiva, 1996 (o original é de 1993). José Carlos Madureira
3 de Maio de 2009 7:54

1 comentário:

  1. Há plantas que ao regá-las acabamos por afogá-las. Os problemas de hoje são bem diferentes dos de há 35 anos.
    Não vale a pena continuar a olhar para trás: Eurydice nunca esteve no lugar em que Orpheu a imaginou.

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