sexta-feira, 8 de maio de 2009

"CARUMA" comentou o comentário de José Carlos Madureira e disse...

Há plantas que ao regá-las acabamos por afogá-las. Os problemas de hoje são bem diferentes dos
de há 35 anos. Não vale a pena continuar a olhar para trás: Eurydice nunca esteve no lugar em que Orpheu a imaginou.

7 de Maio de 2009 10:46

1 comentário:

  1. Confesso ter uma predilecção particular por metáforas agrícolas. O meu sonho é mesmo ser hortelão. Isso explica porventura o facto de ter feito a associação entre a democracia e uma planta. De qualquer modo, no nosso universo político pós 25 de Abril, a referida associação impõe-se, sobretudo se tomarmos em consideração a mitologia inerente à “revolução dos cravos”, que eu, por imperativos ideológicos, não me permito renegar. Dito isto, convém esclarecer um pormenor importante. Considero as conquistas de Abril um bem precioso, um tesouro mesmo, mas não uma relíquia. Não tenho por ele uma atitude de veneração religiosa, nenhuma hagiolatria determina a minha crença em relação aos ideais de liberdade e igualdade que, estou convicto, constituem, hoje e sempre, o mais nobre programa político – o da democracia. E esse, creio, é o bem precioso que Abril nos legou. Sei bem que os problemas de hoje não são os de ontem. Sei também que não se pode olhar a democracia como Orfeu olhou Eurydice. Daí o meu apelo à revolução democrática e – num arremedo kantiano – à urgência de uma crítica da razão democrática. Por esta entendo um aprofundamento do programa democrático, que só pode passar pela renovação da cidadania. Isso pressupõe uma mais forte participação de todos nós nos assuntos públicos, não permitindo que sejam os políticos profissionais e os aparelhos partidários apenas a decidir o que é o bem comum.
    Nota Breve. Os partidos políticos, na Assembleia, votaram, por unanimidade, a nova lei do financiamento dos partidos. O acordo, quando se tratou de salvaguardar os seus interesses, não sofreu contestação de nenhum quadrante. Governo e oposição uniram-se em bloco para garantir o seu “sustento”, e a sustentação de uma política há muito refém da democracia partidária. Em nenhum outro momento, nos últimos tempos, sucedeu algo semelhante. Mesmo quando era o interesse comum e o bem público que estavam em jogo. Os debates e as decisões sobre questões de política educativa, de política de saúde ou de política económica pautaram-se sempre por discordâncias violentas e acesas polémicas. Nunca consenso. Isso prova que não é em prol do interesse comum e do bem público que os partidos políticos, hoje por hoje, se movem. Prova também que a revolução democrática a fazer se justifica. Revolução que visa ir para além da redutora democracia partidária, abrindo espaços de participação política para o cidadão comum. Para isso é necessário devolver ao cidadão as razões da sua politização. Entendo, por conseguinte, que não se trata de olhar para o passado, mas sim projectar a realização do programa da democracia no futuro que, como sabemos, nos pertence por direito próprio.
    Os meus cumprimentos ao “Caruma”, ao Manuel Beirão, e o meu sincero agradecimento por me terem “obrigado” a escrever uma vez mais sobre o assunto.
    José Carlos Madureira

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