terça-feira, 18 de agosto de 2009

Exercício IV - A PROPÓSITO DE UM DILEMA DE ESQUERDA...
(COM A DEVIDA AUTORIZAÇÃO DA AUTORA, DIMITILDE GOMES)

António, a síntese deste dilema está brilhante.
Mas eu, optimista como sempre, nem me coloco este dilema, pois acho que com o grande reforço de votação que vai haver à esquerda do PS (e a soma dos votos do PS/ BE/PCP vai ser superior às dos votos PSD/CDS) conjugado com o facto de haver eleições presidenciais em 2010, não sei se o Cavaco se atreve a entregar o Governo ao PSD/CDS.
O que me interessa agora é que se discutam modelos de sociedade – será que o PS tem a coragem de propor e defender a propriedade pública para os principais bens estratégicos (energias, água, luz, telecomunicações, banca)? Mas depois a gestão desses bens tem que ser TOTALMENTE transparente e numa óptica de serviço público e interesse nacional, com contratos de gestão bem delimitados e fiscalizados, não se comportando os seus gestores como donos de um bem que é de todos os cidadãos do País. E claro tudo isto numa ecomomia de mercado, nem vejo outra alternativa ao mercado.
E quanto ao sistema de justiça, quem é que tem coragem de propor um novo modelo de raiz, que dê primazia à verdade material em detrimento da verdade formal, que é o sistema que vigora actualmente? E acabe com as várias fases de instrução no processo penal, basta que exista uma (são meramente dilatórias) e imponha julgamentos no prazo máximo de 6 meses a contar do conhecimento dos ilícitos? E que a prova recolhida na instrução do processo sirva e seja válida em julgamento? Talvez se o sistema de justiça funcionasse não houvesse tanto sentimento de impunidade e não haveria este sentimento de existência de uma corrupção larvar em toda a sociedade.
Começa tudo na educação conjugado com o sentimento de impunidade e chico-espertismo que grassa neste País, pois não há castigo e não é o mérito, a transparência de procedimentos, a correcção, a nobreza de carácter e comportamentos que são valorizados.
Veja-se a naturalidade com que os pais metem “cunhas” para os filhos irem para determinada escola e/ou entrarem num serviço, depois continua nas trocas de favores e influência entre as pessoas que têm algum poder económico e/ou político e acaba-se aceitando e votando em Isaltinos, Fátinhas e quejandos, pois não há uma recusa visceral a este tipo de comportamentos que, ao invés, até se aceitam com alguma compreensão.
E quando é que seremos rigorosos em tudo, a começar nos pequenos passos, por exemplo de que os prazos são rigorosamente para cumprir, se um professor pede um trabalho para o dia 2 não pode aceitá-lo do aluno no dia 3, se um julgamento, uma consulta médica, uma reunião estão marcados para as 9h, tem que começar a essa hora, com as inerentes consequências para os atrasados, que perdem os actos com todas as consequências.
Bom, fico-me por aqui, já desabafei um pouco.
Claro que já percebeste que PS não voto, mas nas autárquicas vou votar António Costa e tenho muita pena que não haja um único candidato de esquerda, pois nem quero imaginar o Santana Lopes outra vez a Presidente da Câmara de Lisboa.
Dimi
NOTA: Para já só quero agradecer ao António Neves e à Dimi as respectivas reflexões políticas a propósito das eleições que aí vêm. E já sei que há mais comentários em fila de espera... Estou a gostar disto...
M.B.

1 comentário:

  1. Dimi gostei dos teus ideais para um País melhor. Se me permites gostaria de comentar uma das tuas afirmações. "E claro tudo isto numa economia de mercado, nem vejo outra alternativa ao mercado." Presumo que consideras que a nossa economia é de mercado, ou seja, é a lei da oferta e da procura que estabelece os preços. Eu também considero que as leis de mercado estão a funcionar mas apenas para a contratação de mão-de-obra e dos serviços das pequenas empresas, porque as multinacionais ou as grandes empresas nacionais praticam os preços que muito bem entendem. É assim nas áreas da saúde, obras públicas, combustíveis, telecomunicações, bancária, grandes superfícies comerciais, entre outras. Em todas estas áreas o cidadão é esmifrado. E este Governo de esquerda, tal como os que o precederam, está no mesmo caminho de esmifrar o cidadão. Agravou as taxas na justiça, na saúde, na educação, etc., etc. Para o confirmar transcrevo alguns exemplos concretos que vieram a público: 1.º - O negócio dos contentores em Alcântara que foi entregue por este Governo, sem concurso, por muitos anos a uma empresa. 2.º - Com o argumento da crise, este Governo publicou uma lei que permite ajustes directos de milhares de euros. 3.º - Os preços dos combustíveis são mais um exemplo do nosso mercado a funcionar. Vamos na auto-estrada e vemos uns cartazes a indicarem os preços das três estações de serviço seguintes (que nalguns casos duas são da mesma empresa) e dá um gozo enorme ver a nossa perfeição nos preços que são exactamente iguais até à terceira casa decimal. Por vezes, é certo, surge um preço diferente, a destoar, de um "cagagézimo" de euro, perdoa-me a expressão. E com isto gastaram-se milhares de euros com a implementação dos enormes cartazes que não servem para nada. 4.º Sabes que este Governo criou o cartão do cidadão que custa 12 euros e só é válido por 5 anos? Por enquanto ainda não é obrigatório mas já se fala que vai ser. 5.º Sabes que este Governo criou um certificado energético custa 300 euros, é válido por 10 anos e já é obrigatório para aluguer e compra e venda de imóveis. 6.º Sabes que o Continente domina mais de 60% do negócio das grandes superfícies comerciais em Portugal. 7.º Sabes que as empresas farmacêuticas se opôem a que o preço dos medicamentos deixe de ser homologado pelo ministério da saúde. Muitos mais exemplos podiam ser dados. No entanto para todos os casos temos uma santa autoridade reguladora (nomeada pelo Governo) que sobre tudo isto diz que não há nada a apontar e que tudo é feito dentro da legalidade.
    É certo que para um melhor funcionamento das leis de mercado é fundamental o comportamento do cidadão, que no nosso caso deixa muito a desejar. Pagamos e calamos. Por vezes lá bufamos, mas pró lado, em vez de reclamar com frontalidade.
    Quanto às eleições (todas) votemos de forma livre e não nos deixemos cair no voto útil. Isso é o que o PS e o António Costa querem.
    AB

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