sábado, 6 de junho de 2009

A PROPÓSITO DAS ELEIÇÕES EUROPEIAS DE 7 DE JUNHO DE 2009 (AMANHÃ...!) E DAS OUTRAS QUE AÍ VÊM!



Acabei de ouvir, no Rádio Clube, o Professor Daniel Sampaio dizer que "os jovens são muitas vezes utilizados nas campanhas pelos partidos mas não são solicitados a ter qualquer envolvimento ou participação política na sua vida diária, nomedamente nas escolas". Não posso estar mais de acordo com Daniel Sampaio!

Com efeito, pergunto:

- Quantas escolas estimulam os alunos, através dos respectivos Regulamentos Internos ou através das suas práticas de comunicação, a organizar reuniões de esclarecimento quando têm lugar eleições para os Órgãos da escola, para as Associações de Estudantes, etc.?

- Quantas escolas promovem reuniões dos alunos com professores, funcionários, encarregados de educação e outros membros da comunidade para debater os problemas da escola ou os problemas de política educativa?

- Em que disciplinas se fala de questões políticas concretas? Por exemplo: quantos deputados tem o Parlamento Europeu? Quantos deputados portugueses fazem parte do Parlamento Europeu? Quais os cabeças de lista de cada partido? O que têm feito os deputados portugueses no Parlamento Europeu?

O Sr. Presidente da República disse no discurso do "25 de Abril de 2009" que o direito ao voto era a grande vitória da mudança do regime. Como escrevi neste blog não posso concordar com esta afirmação do Sr. Presidente. A mudança que se iniciou em 1974 não se centra no direito ou dever de votar; a mudança está na possibilidade de comunicar e agir colectivamente e isso exige trabalho, disponibilidade para estudar, para reflectir, para ouvir e não ter medo de dizer o que se pensa. O acto de votar é apenas a forma de contabilizar as convicções dos cidadãos. Sem aquelas práticas a política fica reduzida à demagogia, a palavras vãs, a atitudes incongruentes ou interesseiras, a "sociedades do espectáculo"!

Durante as campanhas eleitorais todos os políticos, todos os ministros estão disponíveis para falar, para ouvir toda a gente! Como se fosse possível fazer isso num período de 2 ou 3 semanas! Há 4 anos desafiámos uma Srª Ministra a debater os problemas da educação com professores e outras pessoas envolvidas directamente nesta área. A resposta foi que NÃO ERA NECESSÁRIO! Depois das mega-manifestações "foi obrigada a ir a reuniões para se falar de educação". Mas agora, na campanha eleitoral, a Srª Ministra entendeu que devia deslocar-se a vários locais para "falar sobre educação".

É esta concepção de política que tem que mudar! A política está ligada à vida quotidiana ou, pelo menos, aos documentos legais que decidem as formas de organização das instituições (escolas, hospitais, empresas, etc.) e às práticas concretas das instituições. Se os cidadãos não são chamados a dar uma palavra quando se definem essas leis ou não são estimulados a intervir nos seus locais de trabalho ou de convivência, como é que se pode ter confiança nos que o fazem tantas vezes contra o que disseram que iriam fazer durante as campanhas eleitorais?

Quanto às europeias, as razões do alheamento dos cidadãos (e não apenas dos jovens) são mais que óbvias. Basta ler as próprias respostas dos cabeças de lista a algumas perguntas dos jornalistas. Pergunta o jornalista: "Quanto ganha um deputado europeu?". Três ou quatro respostas no Diário de Notícias há cerca de 2 semanas: Um diz: "Não sei; mas vou ganhar menos do que ganho cá em Portugal"; outro diz. "Cerca de 5000 euros"; outro diz: "O mesmo que ganha um deputado em Portugal"; outro diz: "1800 euros mais ajudas de custo". Estas respostas convencem alguém? Ou acham que o que vão ganhar não é importante para os cidadãos saberem avaliar o que andam "por lá a fazer"? Outra questão: "Se for eleito vai dar emprego, como assessor, a algum familiar?". Eis algumas respostas dadas: "Não pensei ainda nisso; mas, à partida, não vejo razões para não o fazer"; outro diz: "Nunca faria tal coisa!"; outro ainda: "Sinceramente penso que não seria correcto fazê-lo". Confesso que não sei muito bem a utilidade e a funcionalidade de um parlamento com cerca de 740 pessoas e ainda menos compreendo que esse parlamento tenha que ser o resultado de eleições directas. Mas aceito que, se os políticos dos vários países pensam que essa é a melhor forma de organizar a Europa, eu devo participar com essas regras neste jogo.

Uma conclusão me parece natural: as eleições europeias são a primeira oportunidade do cidadão manifestar o que pensa sobre a política actual em Portugal. Como algumas pessoas dizem: estas eleições são "a primeira volta" das legislativas. Mas também é natural que a abstenção seja muito grande (como, aliás, tem acontecido sempre e em todos os países). E a abstenção (ou "o voto em branco" como um escritor muito conhecido defendia há anos) também é significativa da atitude dos cidadãos perante a política. Até segunda feira!

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