segunda-feira, 30 de novembro de 2009

AO VIVO, NO SÃO LUIZ, 30 DE NOVEMBRO, 21 HORAS: APRESENTAÇÃO DO "PÁSSARO CEGO"...


Músicas: Manuel Paulo
Letras: João Monge
Voz: Nancy Vieira
Quadros: João Ribeiro

"Este disco é um arquipélago de canções do Manuel Paulo e João Monge, povoado pela voz serena da Nancy Vieira, uma voz insular que canta como se pairasse sobre um oceano salpicado por vulcões apaziguados pelo tempo" (Carlos Tê).
"É já o futuro anunciando-se como um presente feliz, um tempo de fronteiras abertas a uma língua comum. Que esse anúncio ocorra numa voz tão límpida parece-me um excelente sinal"(José Eduardo Agualusa).
http://www.manuelpaulonancyvieira.com/ www.myspace.com/manuelpaulonancyvieira
Músicos em presença:
Manuel Paulo (piano,voz)
Nancy Vieira (voz)
Ruben Santos (trombone, voz)
Sérgio Costa (guitarra, flauta)
António Quintino (contrabaixo)
João Correia (bateria)
inês Sousa (voz, percussão)
Preço Bilhetes: Entre 10,00 e 20,00 Euros
À venda:
Teatro São Luiz
www.teatrosaoluiz.pt
Ticketline
www.ticketline.pt
Lojas FNAC
www.fnac.pt
Nota: Se tentar adquirir bilhetes na Ticketline ou na FNAC e obtiver a informação de que não estão disponíveis, não deixe de contactar a bilheteira do São Luiz, no local (Rua António Maria Cardoso, 38, Lisboa), através do telefone (+351) 213 257 650 ou do e-mail
bilheteira@teatrosaoluiz.pt. Obrigada!

domingo, 29 de novembro de 2009

OS TEXTOS DA BÍBLIA E DE SARAMAGO... (Cont.)

A) GÉNESIS, 5, 3-8; 6, 1-5:

"Adão, tendo chegado à idade de centro e trinta anos, gerou um filho à sua imagem e semelhança, a quem chamou Set, e, depois de o ter gerado, vivei ainda oitocentos anos, e gerou filhos e filhas. Asssim, Adão viveu novecentos e trinta anos e depois morreu. Set, com a idade de cento e cinco anos, gerou Enós e, depois de tê-lo gerado, viveu ainda oitocentos e sete anos e gerou filhos e filhas. Assim, Set viveu novecendos e doze anos e depois morreu.(...). Quando os homens começaram a multiplicar-se sobre a terra e geraram filhas, viram os filhos de Deus que as filhas dos homens (1) eram formosas e tomaram-nas por esposas a seu gosto.(...). viu, portanto, o Senhor que a maldade do homem era grande sobre a terra, e que todos os instintos e propósitos do seu coração estavam continuamente voltados para o mal".
(1) Neste passo o comentador oficioso do texto bíblico acrescenta o seguinte: "os filhos de Deus" são os descendentes de Set, que se conservaram bons e religiosos; "as filhas dos homens" pertencem à linhagem de Caim, perversa e ímpia. Do Cruzamento das duas linhagens resultou (como costuma acontecer, pois a companhia dos maus arruina os bons) uma corrupção sempre maior. Sem comentários!

B) TEXTO DE SARAMAGO:

"Set, o filho terceiro da família, só virá ao mundo cento e trinta anos depois, não porque a gravidez materna precisasse de tanto tempo para rematar a fabricação de um novo descendente, mas porque as gónadas do pai e da mãe, os testículos e o útero respectivamente, haviam tardado mais de um século a amadurecer e a desenvolver suficiente potência generativa. Há que dizer aos apressados que o fiat foi uma vez e nunca mais, que um homem e uma mulher não são máquinas de encher chouriços, as hormonas são coisa muito complicada, não se produzem assim
do pé para a mão, não se encontram nas farmácias nem nos supermercados, há que dar tempo ao tempo. Antes de set tinham vindo ao mundo, com escassa diferença de tempo entre eles, primeiro Caim e depois Abel. O que não pode ser deixado sem imediata referência é o profundo aborrecimento que foram tantos anos sem vizinhos, sem distracções, sem uma criança gatinhando entre a cozinha e o salão, sem outras visitas que as do senhor, e mesmo essas
pouquíssimas e breves, espaçadas por longos períodos de ausência, dez, quinze, vinte, cinquenta anos, imaginamos que pouco haverá faltado para que os solitários ocupantes do paraíso terrestre se vissem a si mesmos como uns pobres órfãos abandonados na floresta do universo, ainda que não tivessem sido capazes de explicar o que fosse isso de órfãos e abandonos. É verdade que dia sim, dia não, e este não com altíssima frequência também sim, adão dizia a eva, Vamos para a cama, mas a rotina conjugal, agravada, no caso destes dois, pela nula variedade nas posturas por falta de experiência, já então se demonstrou tão destrutiva como uma invasão de carunchos a roer a trave da casa. Por fora, salvo alguns pozinhos que vão escorrendo aqui e ali de
minúsculos orifícios, o atentado mal se percebe, mas lá por dentro a procissão é outra, não tardará muito que venha por aí abaixo o que tão firme havia parecido. Em situações como esta, há quem defenda que o nascimento de um filho pode ter efeitos reanimadores, senão da libido, que é obra de químicas muito mais complexas que aprender a mudar uma fralda, ao menos dos sentimentos, o que, reconheça-se, já não é pequeno ganho. Quanto ao senhor e às suas esporádicas visitas, a primeira foi para ver se adão e eva haviam tido problemas com a instalação
doméstica, a segunda para saber se tinham beneficiado alguma coisa da experiência da vida
campestre e a terceira para avisar que tão cedo não esperava voltar, pois tinha de fazer a ronda pelos outros paraísos existentes no espaço celeste. De facto, só viria a aparecer muito mais tarde, em data de que não ficou registo, para expulsar o infeliz casal do jardim do éden pelo crime nefando de terem comido do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Este episódio, que deu origem à primeira definição de um até aí ignorado pecado original, nunca ficou bem
explicado. Em primeiro lugar, mesmo a inteligência mais rudimentar não teria qualquer dificuldade em compreender que estar informado sempre será preferível a desconhecer, mormente em matérias tão delicadas como são estas do bem e do mal, nas quais qualquer um se arrisca, sem dar por isso, a uma condenação eterna num inferno que então ainda estava por inventar. Em segundo lugar, brada aos céus a imprevidência do senhor, que se realmente não
queria que lhe comessem do tal fruto, remédio fácil teria, bastaria não ter plantado a árvore, ou ir pô-la noutro sítio, ou rodeá-la por uma cerca de arame farpado. E, em terceiro lugar, não foi por terem desobedecido à ordem de deus que adão e eva descobriram que estavam nus. Nuzinhos, em pelota estreme, já eles andavam quando iam para a cama, e se o senhor nunca havia reparado em tão evidente falta de pudor, a culpa era da sua cegueira de progenitor, a tal, pelos vistos incurável, que nos impede de ver que os nossos filhos, no fim de contas, são tão bons ou tão maus como os demais".

sábado, 28 de novembro de 2009

REGRESSO COM LIVROS...

Este livro, a "Dança dos Demónios - Intolerância em Portugal", editado por Temas e Debates/Círculo de Laitores, apresentado há dias, constitui uma fonte importante para o conhecimento da sociedade portuguesa (e de todas as sociedades). Centra-se no estudo das atitudes, dos movimentos e das ideologias que se pretendem afirmar contra alguém; isso permite conhecer tanto o alvo do combate como o combatente. Por isso esta obra poderia chamar-se "Discursos de combate e de sobrevivência"; "discursos" que não nos podem fazer esquecer o princípio segundo o qual cada indivíduo está em constante relação com os outros e, portanto, está sempre no limiar da luta ou do encontro. A tolerância e a intolerância são pontos de um circuito de que cada pessoa e cada sociedade se aproxima mais ou menos; se distinguirmos entre tolerância passiva (a indiferença) e activa (conhecimento e comunicação com outras culturas) e, por outro lado, entre intolerância despótica (autoritarismo) e intolerância justificada (que tem de definir os limites da tolerância) compreenderemos rapidamente que qualquer posição se pode transformar no seu contrário. Sabemos há muito que "os outros são o nosso espelho"...


A "Dança dos Demónios" faz referência a dez temas principais: Anti-semitismo, Anti-Islamismo, Anticlericalismo, Antiprotestantismo, Antijesuitismo, Antimaçonismo, Antifeminismo, Antiliberalismo, Anticomunismo e Antiamericanismo.

domingo, 8 de novembro de 2009

Livros de hoje e de amanhã… nas palavras de Lídia Jorge…

Talvez um dia exista “uma nova Humanidade cujo texto fundador comece por No final era o verbo, e ninguém precise de reconhecer o decalque. Por que razão não podemos pensar assim? Mas eu não posso mentir – Não imagino alguém que eu ame envolvido neste cenário. Não encontro aconchego nesse mundo, por fraqueza de imaginação, ou simples falta de inteligência. Fiz o meu contrato sentimental com os livros que se parecem com as árvores, aqueles que são da sua matéria. Leio cada um desses livros à vez, e cada folha é lida uma após outra, todas essas árvores carregadas de palavras revestem-me as paredes da sala, uma delas começa assim, «Vem, Noite antiquíssima e idêntica, /Noite Rainha nascida destronada…», eu ouço uma voz sem tempo falar muito próximo, e tudo faz um sentido brutal.

(Contrato Sentimental, pág. 110)

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

AINDA A PROPÓSITO DE LÍDIA JORGE E A ESCOLA...
Escreve o seguinte:
“Uma boa escola nunca é um lugar de passagem. O lugar da instrução escolar é um lugar único e irrepetível. Não é um local de trabalho, nem é um local concebido para jogo e deleite, é um outro lugar onde trabalho, jogo e deleite se cruzam de modo a que todo o exercício seja suportável, e a realidade resulte da aplicação do exercício. Por isso uma boa escola é sempre um lugar de protecção. E a noção do cumprimento, na infância e na adolescência, transitam com naturalidade para os níveis pessoais de libertação. O que tem de permanecer lá, ao fundo da sala, são rostos estimáveis, confiáveis, aqueles que depois acompanham as pessoas para o resto da vida, quando elas já nem dos nomes dos professores se lembram, mas sabem que foram eles, aqueles, os instrumentos da sua autonomia”(Contrato Sentimental, Sextante Editora, Lisboa, 2009, pág. 50).

Digo eu - A complexidade de uma escola resulta da multiplicidade de funções que ela tem de desempenhar. Lugar de transmissão de conhecimentos, terá de reunir e actualizar as condições humanas e físicas indispensáveis à qualidade dos saberes transmitidos; lugar de convivência intensiva, terá de encontrar procedimentos de gestão de conflitos adequados e justos; lugar de desenvolvimento de crianças e jovens, terá de dispor de estratégias de resposta à diversidade da vida que permitam o crescimento, a adaptação e a criatividade de cada um de forma equilibrada; ponto de encontro de concepções muito diferentes do Mundo e da Vida, terá de encontrar os momentos e as formas de transformar essa diversidade em património e ideias novas, isto é, de fazer esquecer algum passado ou tornar o futuro já agora.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A CASA DAS HISTÓRIAS DE PAULA REGO EM CASCAIS...

PAULA REGO COM ALGUNS DOS BONECOS DAS SUAS HISTÓRIAS...

UM TRABALHO DE PAULA REGO...

O QUE É UM BUROCRATA?

Para Kafka, referido por Lídia Jorge no Contrato Sentimental , Sextante Editora, pág. 53) "um burocrata é alguém que escreve um documento de dez mil palavras e chama-lhe sumário". Nas escolas públicas há tendência para burocracias quando faltam o bom senso e o sentido humano dos problemas e das soluções.