sábado, 17 de outubro de 2009

Transcrevo um excerto não do Liceu de Camões mas de uma obra inédita: A CASA INTERIOR:

O DIA DA FESTA

Chegou finalmente o dia marcado. Deveria vir muita gente mas algumas pessoas não tinham confirmado. Relativamente a alguns dos convidados especiais havia ainda dúvidas sobre a sua presença. Por outro lado não se sabia exactamente quantos ficariam para o lanche que o orçamento obrigava a ser parco. Estas incertezas e limitações criavam, naturalmente, no dono da casa uma preocupação, uma inquietação típicas das circunstâncias. “Vai tudo correr bem!”, dizia a filha mais nova. O pai gostava da intenção expressa e não tinha coragem de contrapor o que quer que fosse; afinal, apesar de, no início, ter colocado algumas reservas à ideia da mãe, tinha concordado em fazer a festa.
Oficialmente era às cinco horas o encontro mas até lá havia sempre qualquer coisa por fazer. Há uns anos alguém se tinha esquecido de comprar o vinho verde e a água das pedras; falha colmatada pelo filho quando já havia convidados na sala. Não era agora o caso. As flores estavam nas jarras previstas, os livros novos foram colocados na mesa adequada, a entrada principal tinha sido rigorosamente limpa e o jardim estava desimpedido para a chegada dos poucos carros que lá cabiam.
Alguns convidados não compareciam há anos. Uns porque estavam longe, outros porque tinham tarefas inadiáveis no trabalho e outros porque estavam realmente doentes. Agora era preciso pensar em cada um deles para retomar conversas antigas ou saber colocar as perguntas.
Tais conversas começaram pouco tempo depois da hora marcada. Eu reparava que o dono da casa se esforçava por pôr as pessoas à vontade. Num primeiro momento as palavras eram forçadas mas pouco a pouco vinham à memória episódios divertidos que descontraíam o ambiente e facilitavam a comunicação. As intervenções lúdicas, literárias e musicais que alguns dos presentes tinham gosto em fazer constituíam uma razão acrescida para a festa. O lanche acabava por alimentar corpos e almas.
Ao cair da tarde, o dono da casa reconhecia que mal tinha falado com cada um dos convidados mas podia, finalmente, descansar.

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